Nas terras conquistadas pelo Homem existe uma cidade, existe uma lixeira e rostos agraciados pela depressão. Existe álcool e violência, crianças esfarrapadas e mulheres esfaimadas, existe decadência e figuras holográficas de um mundo que foi esquecido.
Nas terras conquistadas pelo Homem, as tonalidades cromáticas do arco-íris são o cinza contrastando com o cinzento. Os jardins, são jazigos de mármore que sugam toda a luz.
Das chaminés na zona industrial é expelido um fumo denso que desenha esqueletos no céu negro.
Os carros berram na autoestrada da destruição, e, toda a gente odeia todo o mundo, um mundo onde ninguém sabe quem é quem.
Ouve a terra que grita por sangue.
Ouve a terra que grita por sangue.
Sangue, na terra... de Deus.
Vê os pássaros que murmuram,
vê os pássaros que murmuram,
pintados de negro, de preto…
Palavras canónicas perdidas
no sorriso da mortalidade.
Sente o germe que te infesta.
Sente o germe que te infesta.
Sê o germe que germina,
sê a doença, a flor, a festa,
sê a folha da árvore que morreu…
e sente o vento.
Nas terras abandonadas pelo Homem existe uma planície, existem flores silvestres, abelhas a zumbir no infinito, existem árvores que apodrecem dando lugar a outras, existem montanhas e um lago.
Existe o coaxar de sapos que não se transformam em príncipes, existem dragões, existe um fado, dois arco-íris e a retina queimada de um Deus que morreu.
Nas terras abandonadas pelo Homem, o ar está empestado dos aromas de bagas e frutas, de pinheiros e sobreiros.
Cheira às chuvas tropicais, a barro e musgo, cheira a histórias por contar e mistérios a desvendar. Nas terras abandonadas pelo Homem existem nevascas e neblinas, existe o oceano a abarrotar de peixes. Existem sereias nas profundezas das cavernas mentais, e precipícios onde a árvore primordial esbanja a sua seiva.
Ouve a terra que sussurra de alívio
Ouve a terra que sussurra de alívio.
Alívio, na terra… sem Deus.
Vê os pássaros que bradam,
Vê os pássaros que bradam,
Palavras atípicas encontradas
nas alegres lágrimas da perpetuidade,
nas cores das safiras e diamantes…
Sente a semente que te aconchega,
Sente a semente que te aconchega.
Sê a semente, o barco, a vida,
Sê a imortalidade envolta num suspiro.
Sê a água agitada de um rio…
E sente o vento.
Cheira a liberdade.
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