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Gritos mudos no silêncio das palavras!

Aqui toda a palavra grita em silêncio, sozinha na imensidão de todas as outras deixa-se ir... Adjetiva-me então

Melancolia Branca

Dezembro 22, 2023

Carlos Palmito

MelancoliaBranca.jpg

Abro as mãos e permito que os flocos húmidos pousem suavemente nelas.
Sinto-os aveludados, frios, enganadores.
Transportam com eles os odores da solidão.
Caminho lentamente, elevo a cabeça, abro a boca, para lhes sentir o sabor. Água em estado glacial; não gelo, mas neve.
Conseguirei desenhar um anjo no alcatrão áspero? Acredito que sim.
Perto do candeeiro, a temperatura sobe do branco para o amarelo, do frio eterno para uma mecha de calor.
Cheira a inverno, a melancolia, a paz.

Crepitar Natalício

Dezembro 21, 2023

Carlos Palmito

fogao-com-fogo-na-oficina-de-ferreiro-existem-dife

Para o Natal de 2024 desejo sentar-me à lareira, um copo de vinho tinto numa mão, um charuto na outra. Sentir o doce aroma do peru a assar lentamente no fogão, sentir-lhe os sucos, as ervas, a carne a crepitar.
Desejo fechar os olhos, embriagado pelo álcool e pela mescla de fragrâncias, para adormecer ali. Quente.
Lá fora, a neve cai incessantemente, as crianças brincam, criam bonecos, apanham os flocos de boca aberta e língua de fora.
— Cocó de pássaro! — diz uma delas entre gargalhadas sonoras.
Os pombos encolhem-se nos beirais. Mais ao longe, ouve-se o latir dos cães, uma matilha deles, ou duas, ou três… ou dez mil cento e cinquenta e sete.
No centro da cidade acendem uma fogueira. Ouvi falar que assaram um sem-abrigo.
Fico-me pelo peru.

 

Imagem tirada do FreePik

A Dança da Terra e do Vento

Dezembro 11, 2023

Carlos Palmito

dandaelion.jpg

Nas terras conquistadas pelo Homem existe uma cidade, existe uma lixeira e rostos agraciados pela depressão. Existe álcool e violência, crianças esfarrapadas e mulheres esfaimadas, existe decadência e figuras holográficas de um mundo que foi esquecido.

Nas terras conquistadas pelo Homem, as tonalidades cromáticas do arco-íris são o cinza contrastando com o cinzento. Os jardins, são jazigos de mármore que sugam toda a luz.

Das chaminés na zona industrial é expelido um fumo denso que desenha esqueletos no céu negro.

Os carros berram na autoestrada da destruição, e, toda a gente odeia todo o mundo, um mundo onde ninguém sabe quem é quem.  

 

Ouve a terra que grita por sangue.

Ouve a terra que grita por sangue.

Sangue, na terra... de Deus.

 

Vê os pássaros que murmuram,

vê os pássaros que murmuram,

pintados de negro, de preto…

Palavras canónicas perdidas

no sorriso da mortalidade.

 

Sente o germe que te infesta.

Sente o germe que te infesta.

Sê o germe que germina,

sê a doença, a flor, a festa,

sê a folha da árvore que morreu…

 

e sente o vento.

 

Nas terras abandonadas pelo Homem existe uma planície, existem flores silvestres, abelhas a zumbir no infinito, existem árvores que apodrecem dando lugar a outras, existem montanhas e um lago.

Existe o coaxar de sapos que não se transformam em príncipes, existem dragões, existe um fado, dois arco-íris e a retina queimada de um Deus que morreu.

Nas terras abandonadas pelo Homem, o ar está empestado dos aromas de bagas e frutas, de pinheiros e sobreiros.

Cheira às chuvas tropicais, a barro e musgo, cheira a histórias por contar e mistérios a desvendar. Nas terras abandonadas pelo Homem existem nevascas e neblinas, existe o oceano a abarrotar de peixes. Existem sereias nas profundezas das cavernas mentais, e precipícios onde a árvore primordial esbanja a sua seiva.

 

Ouve a terra que sussurra de alívio

Ouve a terra que sussurra de alívio.

Alívio, na terra… sem Deus.

 

Vê os pássaros que bradam,

Vê os pássaros que bradam,

Palavras atípicas encontradas

nas alegres lágrimas da perpetuidade,

nas cores das safiras e diamantes…

 

Sente a semente que te aconchega,

Sente a semente que te aconchega.

Sê a semente, o barco, a vida,

Sê a imortalidade envolta num suspiro.

Sê a água agitada de um rio…

 

E sente o vento.

 

Cheira a liberdade.

 

Imagem encongtrada no FreePik

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