Testemunha silenciosa
Novembro 21, 2022
Carlos Palmito
Ficar parado, especado a contemplar o abismo,
sou uma pena que flutua, uma cor desbotada no universo,
uma arritmia cósmica, decadência civilizacional num mundo submerso.
Às vezes… gostava de ter uma pausa e ver a podridão inerente ao puritanismo.
As guerras que se foram, as que permaneceram, e as que se esqueceram,
o ódio disfarçado de ética e moral, cada um com o seu ego e superego,
pessoas enfiadas num canil, enforcadas em falsas doutrinas com um nó cego,
civilizações que se ergueram do pó dos deuses que se desvaneceram.
Habitáculos e recetáculos, monstros com cara de anjo,
Somos poeira na via láctea, estrelas mortas, diamante bruto,
Somos um mar forrado a cinza que não sente o peso de um minuto,
Somos simplesmente a melodia que sai da garganta de um banjo.
Significamos raiva e ódio, loucura e agressão, tristeza e solidão,
Significamos pradarias cobertas de sangue e os mares revoltos em choros,
Significamos o órfão, a viúva, a casa vazia, e os barcos sem ancoradouros…
Significamos a morte… e com ela, acima dela, a queda da constelação.
Sou uma pena que flutua e jamais tomba, a dança eternizada
no clique de uma memória, a metáfora banalizada,
uma estrela em queda livre, cadente e sem cadência, fria e em agonia,
o eixo que orbita na perpetuação de uma noite fragmentada,
consigo ser, inclusivamente, a própria melancolia.
Que é o homem, senão uma epidemia?
P.S. Imagem encontrada na net