Pluralidades
Dezembro 01, 2022
Carlos Palmito
Plural, todos somos plural, eu tu, ele, ela, nós, vós,
eles, elas, as cores, os sons, os cheiros… e a voz,
a voz que não se cala, a cadência ritmada das amarras sem nós.
Somos genes e genealogia, netos, filhos, pais, folhas ao vento e avós.
Vivemos na pluralidade dos eventos, somos inapetência e desejo,
Ação e consequência, carne, alma, olhares perdidos, e um beijo.
Somos abraços sentidos, verdades, mentiras, o universo que vejo e revejo,
Somos um arroto preso na cordialidade do esófago, uma esfinge e um percevejo
Somos países, distritos, concelhos, cidades, vilas, aldeias,
Somos o especular do que não se deveria especular, somos vidas alheias,
Meias sem par, oceanos sem baleias, castelos desprovidos de ameias,
Somos os vendavais e as tempestades colhidas do que tu semeias.
Em nós existem eras, não as heras venenosas, mas as envenenadas,
Somos a erva no campo, no prado, no mar e nas paredes abandonadas,
Um rio sem destino, um peixe afogado, uma carícia recebida e outra dada,
Somos vivências diferenciadas nas suas pluralidades, para nós ou é o tudo, ou o nada.
E agora, neste molho, junto ao rio onde lavo as lágrimas extintas,
Nesta tela branca onde tento depositar todas as dores, cores e tintas,
Onde berro em letras tendenciosas as minhas demências famintas,
Onde sou o plural do eu mais eu, ou o eu mais tu em palavras distintas,
Sei que tenho que dar a mim mesmo o conselho, o qual falei ao longo do poema, que é aceitação, todos somos pluralidade, inclusive na singularidade, aceita todas as vozes que te habitam, todas as demências e sanidades, sê o plural do eu mais eu, mas se possível, o eu mais tu.
Todos somos eventos a pairar ao vento na esperança de sermos encontrados.
Poema criado para os desafios da abelha (Ana de Deus), 52 semanas de 2022 | tema 48
P.S. Imagem encontrada na net