Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Gritos mudos no silêncio das palavras!

Aqui toda a palavra grita em silêncio, sozinha na imensidão de todas as outras deixa-se ir... Adjetiva-me então

Pétalas Rasgadas: Um Ballet de Vazio e Eternidade

Novembro 27, 2023

Carlos Palmito

uma-jovem-dancando-com-elegancia-e-sensualidade-ge

Se te dessem uma rosa sem pétalas, o que verias?

Se te convidassem para as festas e romarias da aldeia, totalmente despidas de emoções e desejos, o que sentirias?

Imagina então a casa-de-banho, uma banheira a transbordar com uma água mais cristalina que a faca do açougueiro, escaldada por pedras incandescentes a tresandar a óleos afrodisíacos, e, no espelho embaciado, alguém tivesse escrito o teu nome. Qual seria o som narcisista que te tocaria o cérebro? Qual seria a textura das letras que formam aquilo que foi teu por um dia?

                                                         

A que cheira o esgar de dor do amar?

A que sabe o sal que escorre do limão?

Quem era ela? A menina do timbalão?

Quem era ele? O menino do pardo ar?

 

Sabes, ontem sentei-me no banco de jardim. Era de pedra, como o coração dos Deuses no Olimpo.

Chovia uma neve miudinha em formato de coroas de espinhos, a cinza celestial de uma fornalha que não se extingue.  

Adormeci, ali, ao som das harpas de um futuro desconhecido. Uma cobra emplumada sentou-se no meu ombro entoando hinos confusos de libertação, onde tu eras tanto a protagonista como a antagonista.

Conseguirás amar uma serpente?

Conseguirás amar um pesadelo?

Sabes, as estradas para a imortalidade são quase tão geladas quanto o vinho que o avô bebia ao jantar.

Pensei sentir saudades, mas apenas senti vazio. Será esse vácuo a minha interpretação fraudulenta do que é a melancolia?

Gostava de sentir algo, mas sinto somente um frio permanente.

Na pradaria, uma adolescente de cabelos loiros como o trigo arrancou as asas de todos os grilos, comeu-as, uma por uma, como se fossem cubos de açúcar numa valsa atemporal.

 

Ontem, a avó fez sopa.

 

E se te sussurrassem aos ouvidos as genealogias ascendentes de todas as pétalas brutalmente rasgadas da rosa existente no início do poema, onde as sepultarias?

 

 

Imagem do FreePik

Mensagens

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D