O Herói Improvisado
Março 12, 2024
Carlos Palmito
Daniel abriu a gaveta da cómoda do pai, sob o olhar de assombro do seu irmão mais novo.
— Mano, o pai vai-te matar — resmungava o pequeno de cinco anos.
Mas Daniel não queria saber. Olhou para todas aquelas peças, gravata atrás de gravata, pretas, azuis, com listas, com bolas, até uma com corações, e… finalmente, encontrou a que queria. Aquela vermelha, a cheirar a flores, especialmente rosas e orquídeas.
— Mano! — insistia Baltazar, quase a choramingar. Daniel era o seu herói, mas sabia que mal o pai soubesse que ele tinha ido à gaveta das gravatas, ia levar uma sova, e das grandes. — Arruma isso mano, não quero que tenhas problema com o pai.
Daniel continuava a ignorar os apelos do maninho. Pegou na gravata vermelha e atou-a à volta da testa.
— Olha mano, sou o Rambo — vangloriou-se, enquanto pegava na pistola de água que estava em cima da cómoda, a pingar sobre a madeira escura, e a apontava para o maninho.
Baltazar correu a esconder-se do irmão, numa zona com pouca luz do quarto, para não ser atingido por nenhum esguicho de água.
Ouviram-se passos nas escadas, acompanhados pelo assobiar alegre do pai.
Baltazar arregalou os olhos, e escondeu-se ainda com mais afinco, com os olhos verdes fixos na cabeleira ruiva do seu irmão.
— Rambo ou não Rambo, mano, quero ver o que fazes agora com o Hulk do pai, mal ele entre no quarto.