No silêncio das estrelas
Setembro 08, 2023
Carlos Palmito
No silêncio das estrelas, nasceu o segredo do universo.
Sem céu nem inferno, desprovido de teologia e ciência, os seres navegavam, voavam, planavam na escuridão infinda do cosmo, como pirilampos multicoloridos, a deixar um rasto de poeira sideral.
— Gus? — Valentina estava boquiaberta, desligara os propulsores na totalidade. — Onde estamos?
O rosto do orgulhoso comandante da nave “Santa Maria”, a última esperança da humanidade após a fuga aos átomos que destruíram na globalidade o sistema solar quando o sol iniciou a sua fase de expansão, espelhava incredibilidade.
— Comandante — a voz vinha do intercomunicador, era Isabela, a engenheira chefe. — Após reiniciar a maioria dos sistemas, os suportes de vida reativaram na totalidade. Presumo que tenha afetado um mínimo, provavelmente na área da botânica. Nem acredito que sobrevivemos ao buraco negro.
— O que são essas coisas? — Valentina nem esperava uma resposta, era uma pergunta apenas para si, enquanto contemplava os pirilampos espaciais, com todas as tonalidades, todos os cromáticos, quase uma nebulosa a germinar nos confins do universo.
Gustavo acorda finalmente do seu transe, da sua incredibilidade, para voltar a ser o comandante. Após a tempestade geomagnética que os atirou para o buraco negro, perdera-se de todas as outras naves, as “arcas de Noé”, como tão bem lhes chamaram as altas patentes da terra. A sua responsabilidade, era manter os cerca de mil e quinhentos passageiros vivos.
— Não faço ideia onde estamos — responde finalmente para a sua piloto, enquanto observa os monitores. — Não consigo ver nenhuma constelação conhecida, nenhum ponto de referência, nada.
Nesse instante, uma das criaturas de luz, lembrando uma anã branca, aproxima-se da nave, captada na íntegra pelos ecrãs, dançando na sua frente. Com a mão aponta para o desconhecido.
No silêncio das estrelas, existe a árvore-da-vida, e todas as ramificações que poderão dar esperança à humanidade.
In – “A Odisseia de Santa Maria: Além das Estrelas” um conto de ficção científica que estou a matutar. Ou seja, só existe este pedaço ainda. O resto, anda a passear na minha cabeça.
Imagem retirada da NET