Fantoches dos Deuses
Janeiro 03, 2022
Carlos Palmito
Bravo e elegante, descendente de uma linhagem de gigantes, não em tamanho mas em pensamento.
Aqui se refugiava, no auge do cosmos, aquele local que desenhou e pintou, multicolorido a partir das suas próprias mágoas, aquecido pelas cicatrizes… o seu universo exclusivo.
Este era o sitio onde repousava e refletia, adquiria conhecimento, força, fechava os olhos e modestamente experienciava as poeiras siderais afagarem-lhe a careca, aquele ponto na cabeça que outrora fora povoado por longos cabelos castanhos…
Sentado no nada contemplava a beleza da criação e da destruição, estrelas a nascerem e morrerem, galáxias engolidas por buracos negros e novas a surgirem no vazio cósmico, civilizações inteiras que da insignificância subiam as escadas até ao topo do seu apogeu, para aí se despenharem no precipício da decadência.
Um jogo amplamente praticado por Deuses ausentes, onde nós, sua criação, não passamos de meras marionetas, espantalhos num milheiral divino em que a única colheita existente é a ceifa das nossas vidas, bagos de arroz num repasto para estas tão magistrais criaturas, talvez numa paella, talvez arroz por arroz mesmo “seremos vosso sushi oh divindades esquecidas”.
No fundo, todos somos bons fantoches, aqueles que adquirem conhecimento sem questionarem, os vossos exímios alunos.