Destino Incerto
Setembro 12, 2023
Carlos Palmito
O relógio do destino marcou a hora em que tudo mudou para sempre.
— Pedro! Espera, não aguento mais, preciso recuperar fôlego — Laura estava esgotada, a boca sabia-lhe a ferro, e, a cada silaba pronunciada, cuspia uma avalanche de sangue.
O homem para quem ela falou, observou o ambiente em volta, desesperado. Ouvia os passos a aproximarem-se rapidamente. Felizmente, naquela parte da cidade, entre os escombros da liberdade e o tresandar da pobreza, os perseguidores estavam impossibilitados de usar os jetpacks.
Encontrou uma tampa de esgoto, suspirou, talvez ali conseguisse ganhar tempo.
— Só mais um pedacinho, anda — apontou a entrada do submundo. — Devemos conseguir escapar por ali.
— Não, por aí não — implorou ela, entre um esgar de dor. — Os rebeldes, eles matam-nos.
— Ou são os rebeldes, ou aquelas coisas que passaram o portal do tempo connosco — ripostou o homem de meia idade.
Laura anuiu, a medo. Ainda se lembrava do sibilar daqueles seres que encontraram no futuro. Uma missão de rotina, tinha-lhes dito o comandante. Ia ela, como membro experiente dos viajantes do tempo, e Pedro, como força de segurança.
Quem poderia imaginar? Como teria aquilo escapado a toda a gente? Uma invasão em larga escala. O som que se aproximava da terra, o som que eles foram ao futuro verificar o que era, revelou-se ser um enxame de naves de guerra.
Pedro abriu o tampo, colocando as escadas enferrujadas à vista. Do fundo, veio uma vaporada fétida, que lhe fez os olhos lacrimejar.
— Consegues descer, Laura?
Ela examinou com atenção, as escadas não seriam problema, não fosse o buraco que tinha no abdómen, que lhe manchava a camisa branca. Queria acreditar que sim, que conseguia. Vira no futuro o que os alienígenas fizeram com uns quantos civis que encontraram. Desmembrados, esventrados, comidos enquanto ainda respiravam.
Sentiu um calafrio a percorrer-lhe o sistema nervoso central, enquanto imaginava o que lhe fariam a ela, caso a encontrassem. A ela, como testemunha do futuro. A ela… e a Pedro.
— Sim — a dor era intensa, contudo entrou, sentindo o visco dos degraus e a rugosidade das escadas. Como queria estar no topo da cidade, nos restaurantes com comidas exóticas. Ou numa das tripulações de Marte. Até mesmo numa daquelas simulações de realidade virtual. Contudo, ali estava ela, na degradação do planeta, a fugir de seres de outra galáxia, e de outro tempo.
Pedro analisou os destroços da cidade uma última vez. Retirou uma mina de pressão plásmica, da sua mochila, e colocou na entrada do esgoto, a qual ocultou com uma holograma, e desceu atrás de Laura.
Mal os seus pés tocaram no chão, sentiu uma pancada forte na nuca. Viu estrelas, constelações inteiras no vazio e dor da sua mente, que se apagou no momento em que perdeu consciência.
— Pedro! — ele ouvia o som, ao longe, quase que camuflado nas ondas de dor que lhe queimavam a nuca. Abriu os olhos cinza, vagarosamente.
Tentou levantar-se, mas sentiu de imediato uma tontura, uma vertigem, e umas algemas geladas, que o prendiam à cama na qual se encontrava.
— Onde estamos? O que me atingiu?
— Os rebeldes — Laura estava sem a camisa, no local do buraco no abdómen, onde tinha sido baleada no futuro, por um dos extraterrestres sibilante, existia agora apenas uma cicatriz rosada.
— Que querem eles de nós? Porque ainda estamos vivos? — Pedro estava confuso. As histórias que contavam dos rebeldes, no topo da cidade, onde tudo era luz, vida, hologramas espaciais a raptar a vontade das pessoas, anúncios sem fins, e implantes neuronais, eram que eles matavam todos quanto encontravam. Falavam de canibalismos, sodomia, falavam de apocalipse bíblico e demónios. Contudo, estavam vivos.
— Não sei — murmurou ela. — Trataram da minha ferida com uma máquina cicatrizante. Doeu pra caraças, mas ficou perfeitinho. Mas… — ela pousou os olhos num relógio que estava na parede oposta, a refletir. — Sinceramente, não consigo perceber.
Nesse instante, alguém entrou na sala, de vestes negras, como as tropas de operações especiais, ocultado pelas sobras. Pedro seguiu a pessoa com o olhar.
Na parede verde, onde o relógio se encontrava, existia uma palavra. Destino. O ponteiro dos segundos atingiu todos os outros, tanto o dos minutos, como o das horas.
Meia-Noite.
Ouviu-se um estrondo, ao longe. A mina plásmica foi pisada.
… To Be Continued…
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