Caramelo, melão e algodão-doce
Novembro 30, 2021
Carlos Palmito
Guia este meu olfato em teus odores, leva-me para além dos prazeres afrodisíacos do próprio corpo, distante de falsas moralidades e teatralizados pudores.
Torna-te o bote salva-vidas num universo nauseabundo onde tudo é desprovido dos cândidos aromas percecionados somente pelo epitélio olfatório.
Dança comigo doce estrela do obscurecer, sigo os teus passos embalado em sonhos e perdições, com uma rosa segura na boca e os espinhos cravados nos lábios… filamentos vermelhos que me percorrem a mandibula, um gotejar de sangue e alma… e as almas que dançam, se entrechocam e unem numa só, observadas e testemunhadas pelas estrelas deste desvairo.
Inebria a minha mente, deixa a loucura apoderar-se do que somos, pois a seriedade não pertence ao hoje, deixa-a vir amanhã, vir (se) depois… hoje seremos meramente lobos que uivam ao luar!
Unidos veremos o cosmos se alinhavar até ao mais infinitesimal detalhe, aplaudiremos e tombaremos nas areias do tempo…
No final aproximamos os corpos que rebolam neste plano existencial, onde as almas se uniram… e num abraço consegues sentir a minha respiração quente e vagarosa junto ao pescoço, enquanto eu sinto o calafrio que te percorre a derme, os poros se arrepiarem, os olhos ignorarem a realidade e o corpo contorcer-se… e noto os aromas que de ti emanam, caramelo, melão, algodão-doce!
Cravo-te os dentes, qual vampiro insaciável!
Paixão, desejo e luxuria!
Tudo num único instante, numa demência fugaz!
Foto de Marília Moura no Instagram