A ti março!
Maio 15, 2023
Carlos Palmito
A ti, março; para ti, março; por ti, março; sobre nós, março…
Ontem não choveu, novamente. Estou seco, perdido a meio de um enredo,
e é tarde, muito tarde, estamos em maio. É manhã, cedo, demasiado cedo…
e são agulhas e são memórias, é um abraço e o cansaço, o coração e o compasso!
E tenho que te agradecer, meu irmão, agradecer por cada segundo, cada momento,
agradecer às estrelas aprisionadas no fundo de um lago congelado perante a noite,
ao sussurro do vento que lhe lambe as águas cristalinas, que me concedem proite,
que me trazem reminiscências refundidas, documentadas e seladas a cimento.
Agradeço à escola que é a vida, aos livros que são as inspirações epidurais,
ao alimento que me combusta e impulsiona na direção da eternidade,
ao pão e vinho, à fruta e leguminosas, aos paladares azedos da liberdade.
Às palavras escondidas nas esquinas da bonança. É, março… somos animais.
Agradeço à criança existente em mim, fraca e efémera, desejosa de mais,
desejosa do mundo, do universo, da primavera, das flores, sedenta de vida,
moribunda num saco de grãos de trigo, que serão farinha, pão, comida,
e é ela que me dá forças, forças para te olhar de frente, março, e gritar “Jamais!”
E é isto, meu irmão, meu amigo. É isto, março, é este o nosso triângulo amoroso,
eu, tu e a primavera, nós unificados pelos odores afrodisíacos de uma flor
germinada no fenecimento do inverno, na morte do frio. Somos dor, e somos amor.
Obrigado, março, obrigado por cada afeto silencioso, pois cada ápice foi… majestoso.
Poema criado no âmbito do desafio 12 Meses de 2023 | de Gratidão lançado pela nossa querida rainyday