A ti fevereiro
Abril 04, 2023
Carlos Palmito
É abril e falo de fevereiro… agradecer ao quê?
Instintivamente separo as memórias em quadrinhos,
penso, repenso, embriago-me em lembranças e vinhos.
Nada surge. Serei o poeta que nunca lê, o visionário que nada vê?
Poderia falar de acampar, mas não acampei.
Talvez vos falasse do sol, mas esse esteve escondido.
Que tal o gemido no teatro da dor, enfatizado e aplaudido?
Ou um salão real, imundo nas vísceras apodrecidas de um rei?
Nada! Tudo seriam mentiras banais e teatrais, seriam invenção.
Seriam máscaras de carnaval numa montra desprovida de reflexos.
Seriam dias cobertos por neblina e pensamentos desconexos.
A que posso agradecer, Deus? Só posso estar louco, a perder a razão.
E se agradecer a mim? Ao meu sobrenome, sobre o nome, sem nome?
Não. Isso seria injusto, egoísta e egocentrista. Agradecer a mim, que nada sou!
Necessito de uma bússola, um mapa, uma indicação de para onde vou.
E sei precisar de agradecer, em abril a fevereiro, em palavra a pronome.
Vamos ligar a cablagem, cabos após cabos, dias após dias.
Agradeço ao ar que respiro, ao suor que transpiro, ao ser que admiro.
Agradeço à comida que não falta, à cama onde repouso, ao som que suspiro.
Agradeço ao vento que transporta perfumes, sabores e magias, filantropias…
Agradeço-te, fevereiro, agradeço-te mesmo, tenho que agradecer.
Ainda aqui estou, não estou? Um imortal entre imortais?
Um ser perdido entre a lucidez de uma luminária e pensamentos imorais.
Ainda aqui estou fevereiro. Não te livrarás de mim. Não posso morrer.
Poema criado no âmbito do desafio 12 Meses de 2023 | de Gratidão lançado pela nossa querida rainyday