A Rosa Negra da Alma
Maio 30, 2023
Carlos Palmito
Tudo se prende no díspar contemplar que o universo concede aos olhos.
Eles sangram, sangram uma tinta incoerente de pensamentos,
uma massa disforme, acéfala, colorida com filigranas e filamentos.
Com a raiva bordada à mão por entrefolhos, e ocultada entre os folhos.
Tudo se enclausura no corpo. Tronco, membros e cabeça.
Emoções que navegam nos riachos secos, púrpuras, de uma lua extinta.
Gostava por um dia de fugir de mim, da minha sombra, da minha tinta.
Contudo, permaneço amordaçado no salão de baile de uma condessa.
Esta noite vi o arco-íris, era um ancião debotado, que tresandava a morte e desilusão,
era eu, eras tu, era um borrão no espaço-tempo, um grilo que se olvidou de florescer.
Rasguei o coração do peito, apenas para o embrulhar, adornar e oferecer.
Toma, é teu, não o quero, fede a tintura de confusão.
Colocamos uma grinalda de lírios na nuca, e somos trespassados pelos espinhos.
Somos a rosa negra da alma, a clarividência de uma intempérie de crude,
concebidos na aspereza de uma deusa de granito, rude,
Somos o cósmico negro de uma rosa, uma alma fecundada, brindes sem vinhos.