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Gritos mudos no silêncio das palavras!

Aqui toda a palavra grita em silêncio, sozinha na imensidão de todas as outras deixa-se ir... Adjetiva-me então

Cartas de Tarô: O Mundo (XXI)

Janeiro 28, 2025

Carlos Palmito

o_mundo.jpg

É simples.
Tão simples, meu amor!

Primeiro, a escuridão permeia-me as guelras, onde o paladar sabe a um misto de nada com lágrimas que nem me pertencem.
O ritmo caótico do coração despenca das alturas, alimentado pela adrenalina, enquanto a textura aveludada da tua língua devaneia pelo meu corpo, para uma linha constante.
Nada deveria ser constante neste mundo, meu amor.
A constância pertence aos fracos, jamais aos pensadores.

Depois... Depois de tudo, vem o vazio.
Vem um silvar dos pulmões a expiar os sete pecados de um mortal enrolado na sua mortalha. Uma nota desafinada numa flauta de cana rachada.
Imploro pelo oxigénio que já nem vem, nem vai.
Imploro pelo sorver de uma vida sôfrega, mas essa escapa-se-me a cada inspirar inóculo.

Internamente, sei que o sangue já não flui.
Congelou algures entre duas batidas cardíacas, na foto de uma polaroid empoeirada.
Odeio fotos.
São estáticas.
Nada deveria ser estático na vida, meu amor.
Os amantes não se criam na estática, exceto na estática sonora do universo, na frequência da árvore da vida.

O pensamento torna-se dormente, e o raciocínio esvai-se, até que, finalmente, a escuridão é violentada por uma torrente de luz pálida que inunda todo o espectro que me envolve.
Uma neblina matinal desperta num campo florido, ácido, onde tudo é nada, e o nada é um tudo completo.

Flutuo numa bolha, meu amor. Acreditas?
Numa bolha. A minha bolha. O meu casulo, amor.
Sou a essência da vida na morte, e a essência da morte na vida…

Ontem estava escuro. Agora está tudo bem.
Agradeço a última grinalda, essa coroa póstuma que sela a despedida com um beijo doloroso.
Sabes, amor… agora, finalmente, consigo ser eu. Consigo ser livre.
Não chores.

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