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Gritos mudos no silêncio das palavras!

Aqui toda a palavra grita em silêncio, sozinha na imensidão de todas as outras deixa-se ir... Adjetiva-me então

Crepitar Natalício

Dezembro 21, 2023

Carlos Palmito

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Para o Natal de 2024 desejo sentar-me à lareira, um copo de vinho tinto numa mão, um charuto na outra. Sentir o doce aroma do peru a assar lentamente no fogão, sentir-lhe os sucos, as ervas, a carne a crepitar.
Desejo fechar os olhos, embriagado pelo álcool e pela mescla de fragrâncias, para adormecer ali. Quente.
Lá fora, a neve cai incessantemente, as crianças brincam, criam bonecos, apanham os flocos de boca aberta e língua de fora.
— Cocó de pássaro! — diz uma delas entre gargalhadas sonoras.
Os pombos encolhem-se nos beirais. Mais ao longe, ouve-se o latir dos cães, uma matilha deles, ou duas, ou três… ou dez mil cento e cinquenta e sete.
No centro da cidade acendem uma fogueira. Ouvi falar que assaram um sem-abrigo.
Fico-me pelo peru.

 

Imagem tirada do FreePik

Testemunha ocular

Dezembro 20, 2023

Carlos Palmito

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Por estas escadarias já passaram centuriões, coelhos a sair das cartolas dos mágicos; correram crianças e fizeram-se palestras.

Nelas namoraram futuros divorciados banhados por luares primaveris, desentenderam-se amigos do passado em verões escaldantes, escorreram águas em direção aos bueiros, as folhas das árvores secaram, tombaram, enquanto os fontanários saciaram a sede da terra.

Aqui sentaram-se gatos a apanhar os últimos raios de sol do outono; correram ratos, muitos ratos.

Lembram-se do dia em que onze estudantes foram assassinados neste mesmo local? Esconderam-nos na fonte. Nevou nesse ano. Parece que foi ontem, contudo, já passaram inúmeros invernos.

Por estas escadarias existiu abandono e lixo, solidão e vertigem, e, depois, nasceu o sol.

Ali, encostado à parede caiada de branco, fumei o meu primeiro cigarro. Foi dali que assisti a um espetáculo de marionetas.

Na outra tarde o presidente discursou da altivez do décimo segundo degrau para um pátio vazio? Recordam-se?

Quinta-feira à noite fizeram aqui uma festa popular; assaram-se sardinhas e pimentos, os petizes correram livres e felizes, enquanto os pais beberam vinho e cantaram em coro com a banda local.

É, estas escadarias são um local de histórias, de memórias. Umas boas, outras más.

Hoje, estão nelas homens e mulheres cujas rugas falam quase tanto quanto as escadarias, onde as anamnesias são guardadas numa máquina fotográfica e armazenadas saudosamente no coração.

 

 

Esta crónica nasceu do desafio lançado por uma amiga, em que teria que escrever uma crónica com base na imagem.

A foto não é da minha autoria.

Carta ao Pai Natal

Dezembro 18, 2023

Carlos Palmito

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Querido pote de banha,

Tenho a informar que adorei as meias do ano passado, pareciam feitas por uma zarolha desdentada, coladas com nhaca de caracol e testadas pelo teu ajudante perneta.

Este ano quero umas cuecas fio dental, iguaizinhas às da tua rena, quando as rabanadas de vento lhe levantam o vestido.

Para meu desgosto, a chaminé está uma chafarica.

Vejo-te no Natal.

 

 

Imagem do Freepik 

Desafio lançado por um grupo de escrita e leitura onde estou incluido.

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