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Gritos mudos no silêncio das palavras!

Aqui toda a palavra grita em silêncio, sozinha na imensidão de todas as outras deixa-se ir... Adjetiva-me então

Ode ao novo mundo – Parte 1 de 2

Novembro 02, 2023

Carlos Palmito

O poema que se segue, é a primeira parte que serve de introdução ao mundo onde se passou o conto "O pesadelo do deserto sombrio"

1924.jpg 

Antes de vos relatar tudo o que sucedeu, começo por afirmar, sem dúvida alguma, 

que na sua derradeira análise, o ser humano é a criatura mais destrutiva do universo.

A capacidade de matar foi tatuada no ADN deste ser, quiçá, com um propósito perverso. 

O Homem, grandioso criador de divindades, de cânones, de bombas; de merda nenhuma.

 

O Homem! Que é feito dele? Das suas civilizações imponentes e avassaladoras?

Dos edifícios que chegavam à casa dos Deuses? Das majestosas cidades?

Foi-se tudo! A barbárie, o desejo de sangue, a impureza no espírito, as vaidades,

os egos… ah, o doce aroma fumegante de egos inflados em ostentações motoras.

 

O que resta hoje, se juntarmos todos os Homens de todas as tribos existentes no mundo,

desde os orgulhosos pescadores da zona Este, denominados “tribos do sol nascente”,

aos bárbaros das estepes nórdicas, envergando quentes peles de ursos, tremendo o dente,

aos “filhos do holocausto”, nos lagos infectos e pantanosos do Sudoeste, bem ao fundo,

 

passando pelos “cães do deserto”, sanguinários descendentes dos discípulos da areia,

e até mesmo aos guardiões do desfiladeiro para Oeste, autodenominados de “arcanjos”,

sem esquecer os arquipélagos, ou os que se recusaram a subir, perdidos nos seus rearranjos,

todos esses Homens, de todas essas tribos, não conseguiriam encher um país pela meia.

 

E o que aconteceu, perguntam vocês, como pode o mundo cair no abismo?

A guerra, a doença, a fome, a morte, os quatro cavaleiros do apocalipse

a cavalgarem desenfreados na terra, na civilização, no mundo, na elipse,

no planeta, a verter sangue nos novos versículos através da sua caneta.

 

Aconteceu o que aconteceu antes… a história tem uma tendência masoquista

de se repetir ao longo dos anais do tempo, de se esquecer, de se reinventar.

Eu culpo… o Homem. Na minha mais fria interpretação, culpo a sua sede de matar,

a sua fome de poder e a sua capacidade de distorcer a verdade, como um falso cabalista.

 

Que posso dizer? Sei que já sucedeu antes, muitas vezes, em muitos momentos,

que o digam os persas, os romanos, os hititas, os maias, os incas, os minoicos…

que o digam todos os que tombaram antes, todos os homens, aberrantes e heroicos.

Que o digam os símbolos de poder, os estandartes e as bandeiras a dançar aos ventos.

 

E desta vez, fomos mais fundo. Tentámos ser deuses, esquecendo que somos animais. 

A raiva, o ódio, a desinformação, a divisão do ser em caixas cada vez mais pequenas,

estereotipados, cada caixa odiando a outra caixa. Mais tarde ou mais cedo, bastaria apenas

uma palavra errada, um ato mal interpretado, um olhar de lado, uma respiração a mais…

 

Um dedo no botão, uma bala num campo de batalha, um avião fora de rota.

E assim foi! Guerras eclodiram ao redor desta bola que paira no espaço,

Dizimaram-se pessoas, famílias, cidades, nações, continentes no seu fracasso.

Como dizia Orwell: "Imagina o rosto humano a ser eternamente pisado por uma bota"

 

Ou, Júlio César, “Dai-lhes pão e circo.” E deram, deram! Como é ignorante o humano…

Encheram os noticiários de guerras, que eclodiam ao longe, nos ecrãs de plasma,

nos telemóveis, sempre lá, como se fossem palavras sussurradas por fantasmas.

Contudo, a grandiosa, omnipotente e omnipresente rainha dos mortos atravessou o pano,

 

Rapidamente as balas estavam no nosso quarteirão, na nossa casa, nos nossos jardins,

As bombas caiam nos nossos hospitais, nos nossos cemitérios, nas nossas memórias.

Os vizinhos tombavam no chão, enquanto as rádios falavam de moralidades ilusórias.

Eram histórias para embalar monstros. Cadáveres empacotados em milhares de cetins.

 

Já ninguém acreditava em ninguém, tanta vez que veio a mentira e a manipulação,

que o ser humano deixou de ter a capacidade de ver a verdade, mesmo que ela

lhe batesse à porta, adornada por uma coroa de louros no fundo de uma tijela.

Em meses, a gloriosa humanidade encontrava-se à beira da própria extinção.

 

Num último reduto, a ordem de lançaram as bombas nucleares, foi dada por um idiota.

Muitos outros idiotas responderam na mesma moeda, uma espécie de pacto demoníaco,

ou suicídio coletivo, ou, simplesmente, a arrogância impulsionada por algo afrodisíaco,

O que sei, é que se perderam milhões de vidas. O resultado de uma macabra anedota.

 

Perderam-se cidades, infraestruturas e ecossistemas em larga escala,

nesta escalada descontrolada de violência. Foi o caos, a anarquia, o fim.

Os que sobreviveram, refugiaram-se no subsolo sem festas nem festins,

sem esperanças, a subsistirem numa escuridão avassalante que os apunhala.

 

Desapareceu a tecnologia, o conhecimento, a medicina, os livros, os papiros,

tudo o que tão arduamente tinham conquistado perdeu-se para sempre.

Como pode o Homem ser tão cruel… somos a raiz do mal, a semente,

a amargura adocicada num copo de vinho azedo, somos como vampiros.

 

Cá fora, as explosões lançaram poeira e detritos na atmosfera, criando um inverno nuclear

que persistiu por longos séculos. A fauna e a flora foram devastadas, as águas contaminadas;

o mundo adoeceu como resultado de uma infeção chamada Homem, nas suas fúrias iradas.

As áreas afetadas pela radiação tornaram-se inabitáveis, a temperatura caiu de forma singular,

 

originando uma era glaciar. O planeta azul metamorfoseou-se numa vala comum,

com os ossos dos soldados desconhecidos a serem corroídos pelas chuvas ácidas,

com os animais e as plantas a sofrerem miríadas de mutações em terras flácidas,

com as estrelas escondidas pelas poeiras cancerígenas, protegidas por deus nenhum.

 

Nas cavernas, os homens tentaram criar uma nova civilização. Algumas resultaram,

Contudo, outras fracassaram redondamente, pois o mal está estampado no coração

daquele que se diz humano, na sua alma cáustica, nos seus genes, como uma maldição.

Existiram sociedades que se autodestruíram. Dizem que foram os medos que os sabotaram.

 

Para mim, foi o demónio que os habita, foi a natureza indomesticada dos seres selváticos,

a brutalidade sanguinária inerente a eles, quase tão intrínseca como respirar.

Cidadelas que se consumiram nas chamas do ódio que trouxeram da era nuclear.

Implodiram-se, consumiram-se, mutilaram-se, em ataques psicóticos e psicopáticos.

 

Algumas das cidades cavernosas suicidaram-se em massa, resultado do desespero

aproveitado por falsos profetas que lhes inundaram a cabeça de ilusões e mentiras,

de divinos e sagrados, das escrituras de um novo testamento, de giras, rimas e liras.

Fizeram os seus novos fiéis, súbditos de uma rocha qualquer, acreditar no exagero.

 

Mas também existiram aqueles que sobreviveram, ou eu não estaria aqui,

a contar-vos esta história, a dar-vos conhecimento do, e de quem, somos.

A criatura mais destrutiva do universo, porém, nas adversidades, transpomos

as fronteiras que nos imprimiram no ADN, adaptamos, resistimos, aqui, ali…

 

Imagem retirada do Freepik

Beleza

Novembro 01, 2023

Carlos Palmito

mao-segurando-mudas-organicas-frescas-em-garrafa-d 

Se um dia me perguntassem o que é para mim beleza, eu mostrava-lhes uma foto tua.
Não uma daquelas físicas, impressa num pedaço de papel, ou guardada num equipamento eletrónico qualquer, algures na nuvem da informação, mas sim, aquela que guardo na minha mente.

Aquela que capta a tua verdadeira essência, sempre adicionando alguns elementos e removendo outros… és uma beleza em construção, e para sempre serás a construção da beleza.

Nessa foto, nessa memória que persiste, nessa beleza etérea, vives tu. E durará até à eternidade que nos permeia, até ao fim da valsa que ambos dançamos nas chuvadas do outono, lembrando seres alados num baile ascendente em direção ao infinito.

Se um dia me perguntassem o que é a beleza, eu sorriria, enquanto acedia a ti, nesta minha imaginação, nestes caminhos que se perpetuam, neste amor que guardo numa frágil garrafa de vidro, qual náufrago numa ilha perdida, e responderia: “A beleza, é ela! A beleza é a fragrância desta flor multicolorida que guardo para sempre no meu coração, mesmo sabendo que jamais a alcançarei.”.

 

Imagem retirada do Freepik

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