Pegadas na Alma
Setembro 01, 2023
Carlos Palmito
Cada passo na areia deixa marcas profundas, assim como cada escolha deixa traços na alma.
Cada caminho tem mil bifurcações, cada estação tem comboios a partir rumo às diferentes épocas do ano.
Cada apeadeiro traz saudade, em cada ser formam-se estigmas na forma de pegadas, impossibilitadas de sarar, que se afundam nas areias movediças do tempo; em cada esquina existe um hotel para os que desistem.
Todavia, existem os que persistem, os que insistem, os que rastejam em direção à eternidade, navegando nas ondas das dunas numa jangada de destroços, de pés descalços, tatuando no seu espírito cada ação no formato de um pé.
Cada praia tem uma narrativa, cada narrativa um narrador, cada segundo, um arrastão, cada dor é um preenchimento, cada alegria… um vazio!
Nestas praias as ostras alimentam-se de gaivotas, as algas mergulham desnudas dos precipícios em direção ao vazio. E tu, absorves as cores com as narinas, sentes o quente da areia e o húmido do sal, sem notares as pegadas que te acossam, que te moldam, como barro nas mãos de um escultor.
E, no final, a alma é corrompida pela visão, onde as cores do arco-íris sabem a pimenta e memórias distorcidas. O vento traz visões esquecidas de um futuro distante, onde as flores nas campas são negras como o dia, enquanto a brisa te transporta cânticos com o doce aroma da carne queimada das bruxas que se sacrificaram pela expiação da tua alma.
Foto encontrada na NET (aqui)