Piratas, mercenários, ladrões, a escória da sociedade, toda enfiada num espaço continuadamente sodomizado, um bordel disfarçado de taberna, onde meretrizes roliças bamboleiam em cima das mesas.
Encontro-me sentado no canto mais afastado, com os olhos fixos na entrada, saboreando todo o fedor que emana dos corpos. Suor, sangue, sémen, selvagens que desconhecem um banho faz tempo.
Aguardo, tenho que esperar mesmo, bebo um trago do vinho azedo, amasso um pouco de tabaco para mascar, ocultando o meu rosto na escuridão, desviando as atenções da minha pessoa. Um invisível entre assassinos.
Estive três dias no observatório, no topo desta lixeira a que chamam cidade, à espera; e, mesmo com febre, vi-o, o número um da lista. Vi-o entrar com uma destas feminilidades imundas, mascarradas de tintas de mil cores, juntos, num beco, o alívio sexual da besta, das bestas. Depois, ele sempre veio para aqui.
Passaram-se cinco anos, dá para acreditar? Desculpa amor! Continuo lento… sinto uma lágrima, quente, a descer em espiral na direção do vazio. Cinco anos desde que a última flor na cidade de cristal sucumbiu nas cinzas do fogo. Eu amo-te.
E ei-lo, vejo-o entrar, a cicatriz a subir o rosto em direção à testa denuncia-o. O teu punhal foi certeiro, Leda. O cão danado sobreviveu, mas ficou maculado por ele.
Ergo-me do banco, coloco a mochila roxa no ombro, do interior da qual retiro um dos mil espinhos, enquanto o primeiro dos teus assassinos é submetido à revista dos porteiros.
Deslizo silenciosamente nas sombras, roço-lhe na mão com um espinho de rosa, que fica lá cravado. Branca como a tua alma. Cianeto… a vacina que a minha aquietação necessita.
A lua vai vaza, como o meu espírito, mas amor, prometo-te… Esta noite, brindarei a ti sobre o cadáver de um tirano.
Imagem tirada da net