Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Gritos mudos no silêncio das palavras!

Aqui toda a palavra grita em silêncio, sozinha na imensidão de todas as outras deixa-se ir... Adjetiva-me então

A Rosa Negra da Alma

Maio 30, 2023

Carlos Palmito

343545698_1697080917414521_6486311029513365711_n.p

Tudo se prende no díspar contemplar que o universo concede aos olhos.

Eles sangram, sangram uma tinta incoerente de pensamentos,

uma massa disforme, acéfala, colorida com filigranas e filamentos.

Com a raiva bordada à mão por entrefolhos, e ocultada entre os folhos.

 

Tudo se enclausura no corpo. Tronco, membros e cabeça.

Emoções que navegam nos riachos secos, púrpuras, de uma lua extinta.

Gostava por um dia de fugir de mim, da minha sombra, da minha tinta.

Contudo, permaneço amordaçado no salão de baile de uma condessa.

 

Esta noite vi o arco-íris, era um ancião debotado, que tresandava a morte e desilusão,

era eu, eras tu, era um borrão no espaço-tempo, um grilo que se olvidou de florescer.

Rasguei o coração do peito, apenas para o embrulhar, adornar e oferecer.

Toma, é teu, não o quero, fede a tintura de confusão.

 

Colocamos uma grinalda de lírios na nuca, e somos trespassados pelos espinhos.

Somos a rosa negra da alma, a clarividência de uma intempérie de crude,

concebidos na aspereza de uma deusa de granito, rude,

Somos o cósmico negro de uma rosa, uma alma fecundada, brindes sem vinhos. 

A ti abril

Maio 23, 2023

Carlos Palmito

il_fullxfull.4769368986_ajgx.jpg 

Abril, águas mil, do mais honroso ao mais vil, dos olhares perdidos às sementes,

da pia batismal onde afogam os penitentes, aos prados reluzentes do pecado.

Abril, águas mil, beatificado, santificado, dançante num musical… sufocado…

onde estão as tuas enchentes, onde chilreiam as tuas aves, onde andam as tuas gentes?

 

Abril, águas mil, agradeço as flores que me puseste, desenhadas a lápis, no caminho.

Todas elas, em direção à danação, todas para mim, todas eterna e silenciosamente minhas.

Todos os aromas, cores, todos os pólenes, pétalas, abelhas, todos os vinhos e vinhas.

Abril, abril, se te amassem, se te soubessem amar, abril, se ao menos te concedessem carinho.

 

Abril, águas mil, agradeço-te os diamantes cristalinos nas poucas chuvas que nos oferendaste.

Os pastos agradecem, a floresta agradece, a fauna, a flora, os rios secos de lágrimas celestiais.

Somos pecaminosos, abril, seres oriundos do barro, frágeis como vidro, fortes como cristais!

E eu agradeço-te, pelo contraste que em ti existe, pela brisa e chuva com que nos tocaste.

 

Que mais te posso agradecer, que posso eu expressar, falarei no castanho dos olhos

que fitam as nuvens, que focam o sol e se perdem no horizonte, pudesse e seria uma fonte,

a mancha de um fauno nas florestas. Embrenho-me em ti, abril, no poente, após a ponte.

Somos fortes, abril, filhos da terra, abril. Obrigado pelas marés que desfalecem nos molhos.

 

Agradeço-te pelas letras que traçam os contornos da minha existência vincada num caderno.

Pela fábula que a cria, letra após letra, massa numa sopa fria, ruído, música, ritmo, cadência,

agradeço-te, irmão de março, de fevereiro, filho de Cronos, agradeço, na minha sonolência.

Abril, águas mil, da agressão à paixão, da luz à escuridão, do vazio ao teu abraço fraterno.

 

Poema criado no âmbito do desafio 12 Meses de 2023 | de Gratidão lançado pela nossa querida rainyday

A ti março!

Maio 15, 2023

Carlos Palmito

344515267_815309546127182_484034584319352502_n.png 

A ti, março; para ti, março; por ti, março; sobre nós, março…

Ontem não choveu, novamente. Estou seco, perdido a meio de um enredo,

e é tarde, muito tarde, estamos em maio. É manhã, cedo, demasiado cedo…

e são agulhas e são memórias, é um abraço e o cansaço, o coração e o compasso!

 

E tenho que te agradecer, meu irmão, agradecer por cada segundo, cada momento,

agradecer às estrelas aprisionadas no fundo de um lago congelado perante a noite,

ao sussurro do vento que lhe lambe as águas cristalinas, que me concedem proite,

que me trazem reminiscências refundidas, documentadas e seladas a cimento.

 

Agradeço à escola que é a vida, aos livros que são as inspirações epidurais,

ao alimento que me combusta e impulsiona na direção da eternidade,

ao pão e vinho, à fruta e leguminosas, aos paladares azedos da liberdade.

Às palavras escondidas nas esquinas da bonança. É, março… somos animais.

 

Agradeço à criança existente em mim, fraca e efémera, desejosa de mais,

desejosa do mundo, do universo, da primavera, das flores, sedenta de vida,

moribunda num saco de grãos de trigo, que serão farinha, pão, comida,

e é ela que me dá forças, forças para te olhar de frente, março, e gritar “Jamais!”

 

E é isto, meu irmão, meu amigo. É isto, março, é este o nosso triângulo amoroso,

eu, tu e a primavera, nós unificados pelos odores afrodisíacos de uma flor

germinada no fenecimento do inverno, na morte do frio. Somos dor, e somos amor.

Obrigado, março, obrigado por cada afeto silencioso, pois cada ápice foi… majestoso.

 

Poema criado no âmbito do desafio 12 Meses de 2023 | de Gratidão lançado pela nossa querida rainyday

Mensagens

Pág. 1/2

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D