Primordial
Abril 21, 2022
Carlos Palmito
Deslumbramento pelas vozes que ouve e rostos que não contempla.
Neste instante o ser encontra-se em formação, o milagre da criação explanado tanto pela ciência como pela teologia, a flutuar na vastidão do liquido amniótico.
Aqui é o universo, todas as galáxias, constelações, estrelas, planetas, santuários; nesta bolsa existencial, longe dos paradigmas universais do espaço tempo.
Cá subsiste apenas lugar para ele, proteção, carinho, amor… o primeiro dos amores, do qual jamais quererá fugir, a união por um cordão umbilical, a irmanação de duas almas que nesse instante, nessa eternidade em contagem decrescente, são apenas uma.
Poderá a magnitude celestial e até mesmo a terrena apelidá-lo de parasita, uma entidade a coabitar com o seu hospedeiro, e em tudo estará essa infinda grandeza errada, pois falta-lhe o conhecimento do que é o amor, a partilha de um momento que se perpetuará para além dos oceanos da memória.
Mas ali, o ser já em consciência, detém o conhecimento da praga que virá.
Será arrancado do local seguro, um casulo desenhado e construído para ele, rasgarão a sua união, como quem arranca um morango da terra, verá o mundo para lá do seu cosmos… e odiará.
Pudesse, e ele passaria a eternidade no ventre de sua mãe, pois tudo é perigo, dor e miséria do lado de fora.
Texto criado para os desafios da abelha, em que este é:
52 semanas de 2022 | tema 15 - – o primeiro amor
Desafio criado por Ana de Deus
Imagem encontrada na NET