O resto do que fui
Dezembro 18, 2021
Carlos Palmito
Com passos lentos e um cigarro entre os dedos percorro esta selva de cimento, contemplo o vácuo preenchido por almas penadas, simples espíritos sem função ou destino, que deambulam por estes mesmos trilhos em busca do que há muito perderam… talvez em busca de si mesmos.
Através de um olhar melancólico entrevejo as sombras pintadas a néon, os vermelhos verdes e azuis a tentarem sonegar a cinza deste cinzeiro a que chamam cidade… embelezar esta puta escarlate que nos suga o ânimo até ao tutano.
Encolho os ombros, sou uma alma por domesticar, uma presença impercetível, apenas mais um numero entre tantos. Refugio-me na solitude… e tento acreditar que tudo está bem nesta passerelle de vaidades.
Puxo o capuz do casaco, protejo-me da chuva, do frio, mas não da sagacidade desta cidade… sinto teu odor nauseabundo, podridão da humanidade, esgoto a céu aberto para os deuses contemplarem a merda que fizeram…
e ao olhar para mim, vejo que tudo o que sobrou foi o vazio e uma rosa.
A luz vermelha no semáforo pisca interminavelmente, como se se tratasse do coração da metrópole. Dou um passo em frente, desisti… já nem quero mais saber!