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Gritos mudos no silêncio das palavras!

Aqui toda a palavra grita em silêncio, sozinha na imensidão de todas as outras deixa-se ir... Adjetiva-me então

Olhar a dentro

Novembro 28, 2021

Carlos Palmito

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Saborear o momento, sabes?
Impregnares-te do universo através dos sentidos, o vibrante das tonalidades numa floresta ao fim do dia, a ressonância que o vento concebe ao passar pelas folhagens e o seu toque suave e frio na pele.
O odor de um cosmos em perpétua mutação e a cinesia de todos os seres neste plano astral.
Mantém os olhos fechados, eleva-te, torna-te a estrela da manhã, ou, se ousares, vai mais além… sê o sol neste mundo, o teu mundo.
Conscientiza-te de tudo o que te envolve, no fundo do âmago sabes ser uma pechincha, mesmo que o preço a pagar seja a alma.
Agora volta-te para ti, deixa-te transportar pela respiração pausada, o fluir do sangue em constante movimento no corpo… o teu templo.
Conhece-te e reconhece-te ao mais ínfimo detalhe, inspira e expira ao ritmar do coração, quebrado ou inteiro ele tem a sua cadência própria.
Os pelos erguem-se ao sabor do toque… e abres os olhos.
Inalas o odor de pinho a arder na lareira, contemplas a sala e sentes o travo doce do vinho… tudo está bem, este é o teu local seguro.
Mas, sem alguém com quem o partilhar, qual o seu fim?

Foto de Rakicevic Nenad no Pexels

Pó de arroz

Novembro 26, 2021

Carlos Palmito

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Vadio!
Esse era o nome pelo qual mais o chamavam, um verdadeiro vagabundo, e odiava, no fundo da sua alma e na flor da sua derme abominava  essa denominação.
Todos o olhavam através dos seus olhos, um deslumbrante arco-íris ótico que o julgava, censurava e oprimia… que sabiam eles? Nada, apenas presumiam e falhavam, mas o gaudério permanecia na conspurcada perceção daqueles ignóbeis seres.
Como ele os execrava.
Nem um único lhe deu a mão quando todo o seu mundo desmoronou que nem cartas ao vento, para si sobraram unicamente memórias, dor e mágoa… terá que viver com essa recordação até ao final dos seus dias “tudo é mais belo com um pouco de pó de arroz!”.
Não passava um único dia sem na sua mente, aquele local entre os dois ouvidos, ter uma disputa… morrer ou viver… acabava ininterruptamente por escolher a vida, seria ela a sua penitência.
E agora encontra-se aqui, num barco prestes a chegar à costa, longe da lixeira que um dia chamou de casa, conseguiu deixar para trás todos os desprezíveis cidadãos de bem, seus carcereiros mentais, acusadores reles que jamais o deixavam esquecer…
Sentia-se importante, “vejam onde o indolente chegou.” enquanto se deleitava com o sol a aquecer-lhe a face imaculada de barbas, os salpicos a arrefecerem-lhe a pele morena, o aroma a sal deste mar e odor de medo dos homens…
Em minutos chegou à costa, pegou no estandarte, saltou com o bote ainda em movimento, correu pelas areias com fúria e ira na expressão e nos berros… viu os clarões, ouviu os estrondos… as suas vestes tingiram-se de vermelho e tombou nas húmidas areias de uma desconhecida praia, a disputa tinha chegado ao fim.
“Tudo é mais belo com um pouco de pó de arroz!”.

Foto de Marcelo Moreira no Pexels

Palavras acusadoras!

Novembro 26, 2021

Carlos Palmito

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A intempérie abateu-se sobre a cidade, os lagos congelaram, os sapos calaram-se e os pombos encolheram-se nos beirais.
Os céus tornaram-se cinza e a cinza foi depositada no cinzeiro num gesto quase automático, autónomo à mente.
Este cigarro estava no fim, a morrer numa chama lenta e tu sabias, era claro como vodka… Olhas para o copo vazio, vazo de sentimentos, desprovido de alma. Baco abandonou a mesa, mas continuas a desejar o seu corpo, o sabor, o calor e acima de tudo a embriaguez.
Ergues-te calma e lentamente da esplanada, a centímetros da chuva, e milímetros após o frio, esfregas as mãos roxas e sopras… vês o vapor que sai do teu interior, sempre te fascinou, será este o resto da alma que se te escapa numa nuvem, ou estará ela simplesmente em ebulição na tempérie desta noite?
Entras no bar, pedes outra cerveja, estás anestesiado e queres ficar ainda mais, eliminar a mente de vez, nem que seja por um segundo apenas… pelo canto do olho vês tudo, notas os ares, notas as expressões, optas por pagar e ignorar.
Sorris e internamente gargalhas destas palavras acusadoras que ficam no olhar…

Foto de Zeeshaan Shabbir no Pexels

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